[‘TAMBOR DE TODOS OS RITMOS’]

Jordana Machado
2 min readOct 10, 2019

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Um pouco de gente pra lá, um pouco de gente pra cá, deixa esse buraco ali no meio, o vazio. As amenidades que são blocos constitutivos do cotidiano ficam a boiar por ali, porque a roupa precisa ser estendida e algum pombo pode cagar nos seus cabelos recém limpos. Tudo parece estar sob controle e está, mas não sou eu que exerce esse poder, pois o que está em minhas mãos é um massa de modelar que carrego no bolso e aperto enquanto penso na história da humanidade. Direitos humanos para humanos direitos (sic), e foi assim que decidiram que a humanidade só te pertenceria se você merecesse. Acredita-se que decidimos quem decide as coisas. Acredita-se na previsão do tempo.

A terra da infância já não existe mais, construíram uma represa, e guardamos água, e lavamos escadarias com sangue, e corremos da chuva. Já vinha chegando o tempo das chuvas, e parecia que o tempo ia fechar, e fechou. E parou, como se os anos estivessem trocando de lugar, e quanto mais se abria as portas dos porões pra se gritar e dizer nunca mais, tanto mais o nunca era agora, e o temor do sempre era sempre e hoje. Ele, o tempo, que nos meus tempos de caçador me colocava miúdo ali no pé do morro que tapava o outro lado, e meu coração subia à boca que chamava mãe, e eu chamava aquela mulher como quem chama a paz, esperançoso na sua dor, mãe, mãe, e ainda faltava um tanto pra chegar.

Ao meio dia dormem vinte e duas crianças que acordam me dizendo que sonhavam com parques de diversão e esqueletos. O tempo constrói coisas em nós, e ele não nos deixa esquecer. Ele não.

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Jordana Machado
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Written by Jordana Machado

[Literatura entre colchetes] Instagram: jordanamachado1

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