[SÃO TEMPOS DIFÍCEIS PARA OS ESCRITORES]

Jordana Machado
3 min readJun 9, 2019

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Minha gente, a coisa não está fácil, não. Definitivamente procuro respostas para entender quais foram os reais motivos que nos fizeram escolher nadar nesta bendita tormenta, e não me ocorre nada de diferente das velhas e reais análises sociais. Mesmo quando a realidade está reluzente parece que a gente quer a todo custo alguma outra coisa, porque não pode ser, não é possível, é o que geralmente formam a nossa mistura de pergunta com exclamação.

Olho os professores de Matemática e os invejo profundamente. São seres incapazes de serem atingidos por algum tipo de sofrimento existencial. Todas as respostas e certezas os pertence, os motivos estão bem alocados, das grandes às pequenas coisas o caminho está traçado e seguir basta, o zero é o zero, o pi é o pi, e mortadela defumada é melhor que mortadela tradicional.

Tudo está nítido, os fatos são os fatos, as problematizações infinitas são desnecessárias e encontrar o xis é a única coisa a ser feita, qualquer dúvida que ocorra faz pura parte do único objetivo possível que é encontrar o maldito xis. Nosso problema é pensar no xis, no ípsilon, no denominador, naquela curva, aonde está o transferidor, o grafite certo pra lapiseira de estimação.

Histórias em primeira pessoa bombardeiam as rádios e as estantes, mas que bobeira a minha, quem é que ainda ouve rádio? Mas é por lá que as pessoas descobrem aonde está trânsito, se devem levar casaco ou guarda-chuva, mas que besteira a minha, é blusa que chama, ninguém fala casaco aqui. Blusa significa qualquer pedaço de pano que serve para cobrir a parte de cima de um corpo. Mas como eu ia dizendo, as histórias em primeira pessoa. Eu estava dizendo, perceba.

Até quando se inventa personagens o eu está lá, é tudo sobre nós, estes seres que querem inventar a roda de novo. É tudo sobre nós ou alguém que a gente conhece ou conheceu, o passado, nossa, o passado pode até ser uma roupa que não cabe mais como se diz naquela música, mas você vai de corte e costura e remenda tudo, e só você conheço o espantalho por trás de cada página.

Enquanto transforma seu inconsciente num ateliê de costura rumo à uma SP Fashion Week literária e imaginária, com itens que mesclam cortes da mais pura seda indiana com retalhos de trajes juninos, você fica se perguntando de onde é que tira tantas angústias, e começa a devanear sobre quais eram as angústias, por exemplo, de alguns nomes da semana de 22. Talvez ficassem inseguros com alguma crítica ou com a ausência de um convite p’raquele bar. Até parece que eles não estavam bêbados o bastante pra pouco se danarem para críticas e, além do mais, quem é que precisa de convite para bar, é e sempre foi só chegar lá e dizer quero andar com vocês no recreio porque sou tão incrível quanto vocês e fiquem a vontade para discordar. Um gole na cerveja em copo americano. Ou seriam taças de champanhe? Controvérsias.

E estamos aí nos tempos mais que modernos, os cliques, os influenciadores, uma praga que se arrastou. Que todos os deuses nos livrem de ser algum alguém que espalha como um texto pode ser lido mais vezes se você usar um título infalível, mas há secretamente uma inveja crítica e paradoxal aos números, click. Movimentos atuais constroem moradas importantes, é verdade. Mas vamos lembrar o que é sarau e tudo que ele pode ser ou poderia? Vamos fazer tudo diferente e nos libertar? Vamos. Olha aí outra bolha. Será inevitável?

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[Literatura entre colchetes] Instagram: jordanamachado1

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