[SOB ESSA SOMBRA DE ÁRVORE]

Jordana Machado
3 min readJul 23, 2020

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Pessoal por aí tem uma mania de querer plantar árvore pra salvar o mundo. Bando de besta. Lá no começo do mundo já tinha um monte de árvore, não precisou ninguém ficar plantando, só que aí a gente veio e rrebentâmo com tudo, nossa especialidade. Vez em quando bate na consciência de alguns, e lá vai todo mundo na coisa de plantar as árvores, e chama os amigo tudo pra plantar, e fica ali de prancheta na mão te convencendo a plantar, e usa camisetinha pra mostrar que tá plantando. Vai lá e planta, não fica azucrinando, não. Dá o exemplo e pronto, o exemplo não falha, o bom e velho exemplo.

As pessoas gostam de imitar umas às outras, é assim que aprendemos a falar. Ficávamos vendo nossos pais naquela mexeção de boca, a eterna guerra do o que será que vai falar primeiro, vai falar pai ou vai falar mãe, já pensou se fala Palmeiras primeiro, deus me livre, fala Corinthians fala, filha. Um professor de hebraico falou que em hebraico é muito provável que comece a falar pai, que em hebraico é aba e até explicou que é uma movimentação natural da fala que começa com um “ab” e vai virando aba.

Mas para aprender a falar, tivemos que ouvir primeiro. Aprender a ouvir. Aprender a ouvir antes de falar. Isso aí é mais difícil e mais raro do que as tal das árvore que falta pro mundo falar agora sim gente, agora tô pronto pra outra, bóra começar tudo de novo. Mas se quiser azucrinar também, eu escuto, tranquilo, porque vocês tem razão. Melhor do que não fazer nada né, mal não vai fazer. Bonita também as camiseta, é verdade. Melhor do que vestir a camisa da firma, isso é um fato.

Mas eu tenho uma teoria que as árvores são o centro da discussão porque lá no jardim do Éden a primeira orientação tinha a ver com árvore. Come dessa aqui, o fruto dessa aqui dá um suco bom! O gosto da fruta dessa aqui lembra mexerica, mas não é e essa aqui as folha dá um chá que cura qualquer coisa, mas dessa aqui ó não pode não! Tinha árvores aleatórias e duas árvores: a da vida e a do conhecimento do bem e do mal. Se não fosse por essa segunda árvore, novela nem ia ter vilão.

Dessas duas árvores, diz a lenda que só uma aparece lá no final da história bem no meio de um rio. A outra some na trama. Diz a lenda que a lição é que p’ra tudo na vida existe a simbologia de duas árvores. P’ra tudo na vida vai ter um dilema. Tem a lei da compensação ambiental agora. Cê constrói um prédio e tem que plantar tantas árvores. Esses dias tive até que fazer conta disso p’ra um trabalho aí. Já pensou se fosse assim: tu tivesse que plantar um árvore p’ra cada presepada que tu faz na vida?

[Esse texto eu escrevi junto com o Guímel. A gente também escreve lá no Escala Pantone da Vida junto com a Ceci e a Dayanne Dockhorn. Era pra ser uma batalha de rima sobre árvores, mas virou uma crônica, porque um de nós dois não sabe rimar e não sou eu.

Guímel Bilac publicou este livro.
Também é fã de áudião, mas você pode conhecer a voz dele no podcast
Made in Brazil, sempre um episódio com uma hora do melhor da música brasileira; e também no Máquina do Tempo, uma viagem no tempo pelas melhores músicas da história.]

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Written by Jordana Machado

[Literatura entre colchetes] Instagram: jordanamachado1

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