[SE CONSELHO FOSSE BOM]
O ano passou rápido mesmo. É o que sempre dizemos. Passamos o ano inteiro desejando isso, e todo ano isso acontece, mas todos dizemos essa frase com o arzinho de ops, caramba hein. Parece que foi esses dias que encontramos todas as aquarianas e aquarianos da zona sul. Confraternizamos numa imensa fila debaixo do sol, teve choro, teve briga, teve esquecimento. Então o sistema caiu e ninguém mais sabia se era dia de Enem ou de sacar as contas inativas do FGTS.
Foi a última vez que se falaram.
A pessoa fica digitando e digitando. Você não faz a menor ideia de quando ela vai parar. Consequentemente, você não sabe em que momento é a sua vez. Quando dizer alguma coisa, como, ou até mesmo se deve. Eis o mistério da existência contemporânea. O envelopinho não para, 4, 13, 17 mensagens, e aquilo vai virando uma zona, aí você decide responder, a pessoa não visualiza o que você respondeu e começa um outro assunto. Essas são as pessoas que apertam o enter de frase em frase.
Textão de conquista, textão de sacanagem, textão de desculpa, textão problematizador, textão de amô. Era escrevendo que a nossa geração arrumava umas trêta e uns bêjo. Nada mudou.
Mas é isso, vai que vai, não tem como escapar das histórias. Tudo começa assim. Todo começo é assim. Umas fotos bonitas, umas músicas incríveis, naipe filme do Spike Lee. Depois, dos rádios escorrem as lamentações, e o resto de cerveja morna no fundo de um copo de uma mesa de algum bar é o líquido no qual se vai à deriva, sonhando com uma superação ou vingança, desenhando os perfis dos traidores, receitando magias para um novo rosto que faça par na mesa, no porta-retrato, na conta corrente. Mais uma vez de noite, e a quarta vez no mesmo mês que a voz do Cazuza repete que a vida é louca e breve. A pessoa ao lado te beija as extremidades sem saber que balança as pernas na beira d’um precipício.