[SABE DE NADA]
Nem de mãe, nem de família. De Santos, de todos eles. São maioria homens ou mulheres? Desnecessário responder. São tidas para ser, mas eles são a maioria. Os louros recebidos historicamente e ininterruptamente. Como é deles, sabe de perto, os panos quentes por cima, o tapete sobre a sujeira, os pontos aumentados pra serem assim, aquilo que recebe mãos em súplica, pensamentos noturnos de espera, promessas, dívidas, transações comerciais.
É verdade que ousou tocar seu joelho, mas na volta pra casa anteviu o futuro despedaçado. Sentados um de frente para o outro, viviam aquele caminho em sentidos opostos. Ela solavancava para frente, ele deslizava para trás. Eis o destino numa metáfora física de deslocamento. Era como se ela tentasse alcançar, e ele não parasse para ser alcançado. Era como se ele não ficasse mas também não fosse embora.
Então ela contou.
Seis meses depois você me acusou de não ter ambição, e eu te acusei de ser inocente, mas ser tão inocente a ponto de sentar no vaso sanitário do local de trabalho. Inocente a ponto de esquecer ou sequer suspeitar do que as pessoas são capazes de fazer quando estão sozinhas.
Nunca mais teve um sonho-historinha. Quando era criança, tinha vários sonhos que se repetiam sempre e adorava. Tinha um que era no parque aquático, adorava aquilo de um tanto. E se acordava no meio da noite, tudo bem, porque esse sonho sempre continuava quando dormia de novo.
Podia ser sempre assim, né: sonho-historinha e coisa boa que continua.