[‘QUANDO A POESIA REALMENTE FEZ FOLIA EM MINHA VIDA’]

Jordana Machado
2 min readJul 16, 2019

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— Todo mundo te conhece por aqui, hein.
— Ah, quatro anos pelas redondezas, né.
— Uma copa, né.
— Orra, uma copa já.
— As coisas são meio malucas por aqui, hein.
— Isso é. Mas cê sobrevive, cê tem duas copas do mundo e uma copa américa a mais de malandragem.
— Orra. Fora os campeonato de várzea e as penêra.
— Quê cê achou do jogo?
— Ah, jogo pegado, juiz marcando todas, 6 faltas, lance direto, gol dos caras, o time atacando deliberadamente, tomamos uma bola longa em contra-ataque.
— Lembra do meu Marcos Assunção lançando o Barcos lá na frente? Quase igual. Acertou um passe de uns 20 metros, sai de uma área e está na outra.
— Exatamente! Rolou um salto alto também, mas tâmo aí.
— Não esquenta, passarinho que come pedra sabe o cú que tem, rs.
— Aprendi contigo essa resposta universal: “rs”. Se não quer falar nada, é só mandar essa.
— Muitas pessoas reclamam do meu “rs”. Eu acho ele tão democrático.
— Eu morro de raiva, sinceramente. Aliás, pode entender o meu “rs” pra você como um jeito de demonstrar que cê me deixa com tanta raiva quando escreve isso que nem falo nada, só “rs”, também.
— Olha, te digo que cê poderia falar sinceramente mais vezes, porque eu tô rindo pra caralho! Não rindo da sua cara, mas da situação. Tô rindo da boniteza.
— Ri mesmo, seu filho da puta. Nunca gostei tanto de alguém que me dá tanta raiva.
— Já eu não posso dizer o mesmo. Me acostumei a gostar de pessoas que me fazem ter vontade frequente de esbofeteá-las.
— Ô, preciso ir na minha prima buscar uma grana. Ela mora perto do shopping. Vâmo chegar?
— Vai andando?
— Não, vou roubar o carro da sua mãe.
— Êêêêê! Eu dirijo, vamos, vamos!
— Firmô, tô passando aê.
— Tô com uma vontade muito grande de fazer isso, mas sei que vou me ferrar se eu fizer. Cê entende o que quero dizer?
— Entendo sim. Acho que é muito parecido com a bolha de sabão no meu nariz.
— O quê? O quê uma droga de uma bolha tem a ver com a minha angústia?
— Quando lavo o rosto, deixo ele bem ensaboadinho, aí chega a hora de jogar água, e quando faço isso e expiro sinto uma bolha de sabão se formando no meu nariz. Dá uma vontade fodida de abrir os olhos pra ver.
— Tá ouvindo o que de bão por aí?
— Ah, daquele jeito, né. As canções ouvidas e cantadas pela vizinhança são um estudo sócio-psicológico sobre humor, amor e nostalgia. E por aí?
— O dia tá cinza, não dá pra ouvir funk, nenhum dos dois tipos. Então tô ouvindo Sonhos. Essa letra cabe direitinho num sertanejo, mas como é o Caetano todo mundo nooooooossa. De qualquer forma é um belíssimo tiro no coração.

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[Literatura entre colchetes] Instagram: jordanamachado1

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