[PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS DORES — PARTE II]
Estranho seria se eu não me apaixonasse por você. Ela era a moça mais linda de toda a cidade, e foi justamente pra ela que eu escrevi o meu primeiro blues. Ainda lembro o que eu estava lendo, só pra saber o que você achou dos versos que eu fiz. Às vezes no silêncio da noite, eu fico imaginando nós dois. Não quero dinheiro, quero amor sincero, isso é o que eu espero. Eu preciso dizer que te amo, te ganhar ou perder, sem engano. Um amor puro, não sabe a força que tem, meu amor eu juro, ser teu e de mais ninguém.
Eu não me separo de você mulher, nem se a Globeleza um dia me quiser, se na Mega-Sena eu vencer, fico com você, se no Barcelona eu for camisa 10, me cobrir de ouro da cabeça aos pés, mesmo assim se isso acontecer, fico com você. Eu não consigo te esquecer, cada minuto é muito tempo sem você. Vento solar e estrelas do mar, você ainda quer morar comigo? Aqui é pequeno mas dá pra nós dois, e se for preciso a gente aumenta depois, tem um violão que é pras’ noites de lua, tem uma varanda que é minha, e que é sua, vem morar comigo. Peguei até o que era mais normal de nós, e coube tudo na malinha de mão do meu coração. Vamos descobrir o mundo juntos, baby.
Os livros na estante já não tem mais tanta importância, do muito que eu li, do pouco que eu sei, nada me resta. Entre por essa porta agora e diga que me adora, você tem meia hora pra mudar a minha vida. Um dia, você diz pra mim que me ama e me adora, que não se interessa por ninguém lá fora. Prefere um romance escondido, sai na madrugada pra dar lancinho comigo.
No dia em que eu me tornei invisível, passei um café preto ao teu lado, fumei desajustado um cigarro. Meu ex amor, amor tão bonito, foi lindo demais, e hoje estou tão só. O telefone tocou novamente, fui atender e não era o meu amor. Saudade, palavra triste, quando se perde um grande amor. É o amor, que mexe com minha cabeça e me deixa assim, na rua, na chuva, na fazenda, ou numa casinha de sapê.
Não existe amor em SP. Doente de amor, procurei remédio na vida noturna. Não devo, não temo, dá meu copo e já era. Até quem não é de cheirar, cheirou. O bicho pegou, a polícia chegou. Sem ter você, vou sambando pra viver. Não adianta chegar, ficar de cara feia, eu conheci o samba antes de te namorar. Ao som do cavaquinho, violão, do repique, do tantã, do banjo e do pandeiro, no samba hoje eu vou me acabar. Eu quero é botar meu bloco na rua. Eu sou amor da cabeça aos pés. Sei lá, a vida tem sempre razão.
O passado é uma roupa que não nos serve mais, mas me liga, me manda um telegrama, uma carta de amor. Quando o olho brilhou, entendi, quando criei asas, voei. Decidi viver agora, desde que pensei em mim, quase tudo mudou.