[PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS DORES — PARTE I]

Jordana Machado
2 min readSep 29, 2019

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Quem avisa amigo é, né. Mas não, foi lá meter os pés pelas mãos. E ficando nessa conversa de botas batidas. Nessa de o amanhã a deus pertence. Meu filho, quem sabe faz a hora. Quem sabe faz ao vivo. Quem sabe mesmo se vira nos trinta. Aonde já se viu ficar esperando a banda passar. Vai cair de gaiato no navio e chorar as pitangas. O inferno são os outros, e a caravana não para quando o cachorro late.

Por fora bela viola, por dentro pão bolorento, então é preciso estar atento e forte. Se onde come um, comem dez, a ocasião faz o ladrão para aquele porco que quando come merda se lambuza. Mas você possui a estranha mania de ter fé na vida, descer a rua augusta a cento e vinte por hora, sem se atentar para quando a esmola é demais o santo desconfia.

Como é que você pode ser amigo de alguém que tanto amou? Se ainda há um fio de cabelo dela em seu paletó. Se ela está casando mas te confessou que o grande amor da vida dela é você. Se debaixo dos caracóis do cabelo, não há como negar as aparências, nem disfarçar as evidências. A saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu.

Desta feita, eis aí meu amigo que não fará grande carreira no mundo, as emoções o dominam. Acorda, levanta, vai fazer o café. Você ainda é bem moço pra tanta tristeza. Mesmo que a vida seja loka e a história das sociedades seja a luta de classes. Mesmo que o peito bata num maracatu atômico, ilê aiyê, didididididi ê. Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima. O poeta não morreu, foi ao inferno e voltou.

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Jordana Machado
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Written by Jordana Machado

[Literatura entre colchetes] Instagram: jordanamachado1

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