[OITO HORAS COM VOCÊS]
Queremos ser ouvidos. Mais de duas dezenas dentro de uma sala. Mais de seis bilhões dentro de uma casa derretendo. Eu também esperniei, depois dancei, depois escrevi. No último mês aprendi a estender por alguns segundos a primeira letra da palavra de qualquer coisa que eu disser ou então tirar os cabelos de dentro do lenço. Viro uma árvore de um metro e setenta e oito e os fios dos meus galhos entrelaçados valem dez segundos de que coisa é essa.
As pernas esticadas depois de andadas por seis horas formais, perpassadas por alguns pulos, ou passos de dança que hoje uma galinha canta as coisas que já não lembramos mais. Desde os doze anos alguns centímetros demais colocaram no fim da fila as esperas que já duram plurais.
Em duas horas informais uma folha da estação vai me avisar o próximo parágrafo, um rapaz de óculos escuros ensina um outro rapaz de óculos escuros a conduzir o automóvel, o padre está pensativo na porta da igreja, os funcionários uniformizados na frente do mercado, todas as crianças vestidas de preto, branco e vermelho parecem sorrir para mim.
Informais que aquelas alfinetadas já não espetam porque o terreno arde a derreter os aços, a construir os laços dos cadarços algumas unidades de vezes por horas.
Dois rostos iguais me estendem os braços, e o de risco no nariz se encantou com a pinta do queixo. Brinco que estamos voando e o ar da atmosfera do mundo todo está ali no nosso ventilador, que a construção das lembranças é agora enquanto mordiscamos essa festa de sementes vinda da goiabeira do muro da vizinha. Trocamos esses abraços com camisetinhas de dinossauros e o filho que nunca tive é esse desconhecido que vou ver andar antes da mãe. Nesse dia eu sei que vai chover, porque chove em todo dia triste, bonito ou importante.