[O JOGO DO EQUILÍBRIO]
Ansiedade e paixão.
Distante de uma linear, ela era por inteiro sinuosa.
A cintura, os cachos do cabelo, a alma.
Montanha, relevo, lombada.
Esticou as pernas e se deixou levar pelo verde do carpete.
Respirou ofegante.
A velocidade da mente sempre lhe surpreendeu.
Agora calma como algas no mar, e em instantes, espermatozoides do intelecto.
Ali o tempo todo, ela se fazia notar.
Gigante, insistente.
A ansiedade é como o pó nos móveis, quanto mais você tenta limpar, mais aquelas inofensivas partículas se espalham.
Por todos os lados, por todos os cantos.
Teimar contra a poeira da ansiedade é tão inútil quanto afofar os travesseiros ao se deitar.
Como quem deseja expelir o inquietante e respirar o doce.
O livre, o aconchego. O novo.
Percebeu então a relação entre vida amorosa, ansiedade e o afofar-dos-travesseiros-ao-se-deitar.
As pessoas querem tanto conhecer umas as outras e não percebem que o perigo mora aí. Não notam mesmo que a confusão e os desencontros recebem neste “aí” o seu start.
Quando o seu objeto de desejo é ainda um mistério, ele é como o pó da ansiedade.
Tudo é ânsia, você quer e nem sabe o quê.
Você joga suas fichas de maior valor, perde a concentração e volta a ter 13 anos. Você não se importa com nada.
E quanto mais você tenta limpar essa bagunça, pior fica.
As partículas dominam a sua superfície, e a sua cara mais idiota permanece exposta.
Pra qualquer um ver.
E se tem uma coisa de que as pessoas gostam é de um romance, de uma história.
Diagnosticam de longe um apaixonado. É quase um esporte. É quase um cumprimento de elevador: “oi fulano, bom apaixonado” e o ascensorista: “bom apaixonado, Dna. Fulana”.
A maioria adora uma aventura, uma novidade, algo que as tire de suas vidas automáticas.
E quando enfim estão vivendo o que queriam, como em um passe de mágica, dão um passo e desabam na hora de afofar de travesseiros.
Apressam tudo pra chegar onde não desejam.
Desejam se conhecer e, na realidade, se invadem.
Reviram as emoções e as lembranças um do outro.
Querem nomes, sensações, detalhes, datas.
Questionam opiniões, gostos, opções.
Perdem tempo.
Afofar o travesseiro do outro não é o bastante. É preciso pular em cima, chutar, rasgar.
E lá vai pelos ares a inquietude e a doçura.
Das duas opções, adivinha o que mais atrai nossas narinas?
Bingo.
A instalação desse estágio anuncia o suspiro do fim.
Aqui, os dois querem ser os vencedores, o apostador com a melhor, a maior e a mais correta ficha.
Agora, a concentração voltou, e se resume a discutir o que ficou pra trás e o que ainda virá. O presente é esquecido. O presente não é mais um presente.
Inicialmente, o motivo de não se importarem com nada, era o desejo, a vontade. E hoje, quem cumpre esse papel é o cansaço, a decepção.
Saborear o desconhecido e não chegar tão perto do óbvio.