[O DIA QUE É TODO DIA]
Curamos, descobrimos, construímos. Apertamos gatilhos, escrevemos livros, varremos o chão. Batemos recordes, fazemos o que ninguém mais faz, atentas ao invisível. Entoamos cantos, sussurros e gritos. Queimaram nossos corpos, capitalizaram nosso auto-amor. Debocharam das nossas emoções, inferiorizaram nossa sensibilidade. Maldito seja todo aquele que entrar em nossa casa sem convite. Maldito seja aquele que entrar em nossa casa com os pés sujos e sem a intenção de limpá-los. Bendito seja todo aquele dia que medo e vergonha não faça morada. Bendito seja todo aquele dia de força, lucidez, cabeça erguida e peito aberto. Bendito seja todo aquele dia aonde ninguém se esqueça que nunca nenhuma transformação deu dois passos sem nossa presença.
Um plural.
Não estavam pra brincadeira, a história já tinha provado.
Elas fazem aquele tipo de história que só se faz uma vez.
A diferença é que conseguiam fazer todo dia.
Aquele tipo de história que quando se escuta nunca mais se esquece.
Aquelas histórias que todo mundo conta, sempre aumentando um ponto, só que isso não fazia o real virar imaginação, mas muito mais verídico do que a descrença de quem desacreditava.Tiravam o crédito, crentes que precisariam recuar, cansadas e atrapalhadas. Mas elas se embrenhavam, atrapalhavam o trânsito dos trâmites, trepidavam a tração da terra, se esgueiravam, soterravam olhos, mastigavam ossos, atravessavam poros, abriam clareiras, redobravam bordas, alcançavam foguetes e caudas de cometas, gargalhavam, garfando fungos, sugando gomos, flambando geleiras.
[Repost de textos antigos sobre algo que nunca morre. Às vezes.]