[HORAS CHEIAS DE SERMOS NÓS]

Jordana Machado
2 min readMay 15, 2020

--

Não sabia se era a coisa certa a se fazer quando entrou naquele ônibus. Nunca se sabe. Nunca se sabe é a sentença universal que possui apenas 2 significados. O primeiro é, isso, vai, deixa fluir o apostador de cavalos que existe dentro de você. O segundo é, melhor prevenir, é preciso estar atento e forte como na canção, lava a mão de novo, isso, 232 vezes.

Junto ao nunca se sabe, figura o é foda. É foda é a sentença universal que possui todos os significados que a mente humana quiser empregar, é o pretinho básico da linguagem, cai bem em tudo. Às vezes cai como uma luva, noutras como uma bigorna.

Paloma chega no guichê para comprar a passagem. Observa os seres humanos ao seu redor, estes que provavelmente serão seus companheiros de jornada pelas próximas emocionantes 9 horas repletas de conjecturas acerca de quando o banheiro ficará daquele jeito que você sabe como, ou será que é na próxima ribanceira que o ônibus vai despencar. E lá estão eles. O fumante querendo saber se dá tempo é rapidinho, a criança com o salgadinho na mão, 14 mulheres de legging.

Uma vez leu que a masculinidade é algo tão insira-um-adjetivo, que isso impede de comprar o bilhete para a poltrona 24. Paloma sorriu confiante para a atendente: quero a poltrona 23, por favor. Quem sabe? Nunca se sabe. O cara chega, para no meio do corredor, olha p’rum lado, olha p’routro, a expectativa se espalha, a criança com o salgadinho se impacienta atrás dele, ela tira a bolsa do assento, ele senta. A guerra pelo braço da poltrona, round 1, fight. É foda.

[Antes de ir pegar o ônibus, Paloma deixou um bilhete de despedida nesse texto aqui.]

--

--

Jordana Machado
Jordana Machado

Written by Jordana Machado

[Literatura entre colchetes] Instagram: jordanamachado1

Responses (1)