[EU FAÇO, É RAPIDINHO]
Olá estudantes, eu sou tal pessoa, responsável pela disciplina tal de tal, e antes de discorrer brevemente sobre a disciplina propriamente dita, vou contar pra vocês sobre a minha vida profissional. É nesse momento que você deve sair para fumar um cigarro. Fumar serve justamente para esse tipo de coisa: ocupar uma parcela de tempo que seria desperdiçado e fugir de pessoas que usam o termo ‘propriamente dita’, e de pessoas que contam sobre suas vidas profissionais. Quando essas pessoas se materializam numa só, é melhor levar o maço todo.
Pode deixar que eu lavo a louça. Imagina, você é visita, sai daí. Quê isso, faço questão. E lá vai a pessoa bem intencionada. São as mais difíceis de conter. Elas são animadas, elas são muito animadas, elas são animadas demais. Você não pode catapultar este misterioso personagem da vida irreal sem sofrer danos sociais, porque a vida é um caos então todo ânimo é um quentinho no coração e um exemplo, para de implicar, tá lôco. Então tá pessoa, vai, lava a porra dessa louça, quero só ver. Viu. A maneira como a pessoa utiliza uma quantidade insuficiente de detergente nos utensílios de plástico; uma quantidade insuficiente de força nos garfos que ficarão com o queijo seco cracado neles; uma quantidade demasiada de sacudidas de mãos que vão xiringando água no chão que vai ser pisoteado e marcado; uma quantidade demasiada de histórias e pausas entre um prato e outro, e meu deus isso não vai terminar nunca. Terminou, quer dizer, terminou naquelas né, porque a pessoa não limpou o fogão. Não dá pra respeitar alguém que lava a louça e não limpa o fogão. Se você se sentiu íntimo e à vontade o bastante para lavar a minha louça , isso também deveria se estender ao fogão, e quem sabe, futuramente, ao tirar pó das coisas, que definitivamente é a pior tarefa para se cumprir dentro de uma casa.
É certamente impossível haver ao menos um leve incômodo, quiçá mini palpitações, aquele fogo do nervoso começando a esquentar as entranhas com um vamos lá que eu te ajudo a estender a roupa, fazer de dois é mais rápido e todas as outras tantas sentenças da ordem das justificativas e argumentos que as pessoas precisam se valer para te convencer da eficiência comprovada e inescapável do trabalho coletivo, porque a sociedade é plural não é mesmo, estamos-todos-no-mesmo-barco, ora essa. Independentemente se a pessoa for a do tipo que estende a peça sem sacudir antes, ou se ela estica as peças e não economiza espaço no varal, ou se vai socando os prendedores em qualquer lugar sem nem sequer imaginar que isso triplicaria o trabalho de passar a roupa.
Você é uma pessoa analisada, uma vez por semana você senta naquela cadeira que faz barulho e se permite, tranquilo, a pessoa ofereceu o melhor que podia, mesmo que tenha sido uma merda, você respira e aceita a melhor merda que alguém um dia poderia sonhar, afinal você já passou por coisas piores como toalhas maçarocadas, creme de leite e leite condensado dispostos como se fossem a mesma coisa e os comedores de pão sem um prato debaixo.