[COLEGUINHAS DE UNIVERSIDADE]
O riso é político.
Coleguinhas de universidade, quando a gente não tem a infelicidade de presenciar os eternos close errado de vocês, a gente tem o desprazer de ouvir relatos.
Coleguinhas de universidade seguem combatendo divergência política com risada e quando são lembrados de que o riso também é político e opressor, utilizam-se do argumento safado de que não estão combatendo a pessoa e sim o posicionamento.
São com posturas e ações como essa; que representa alguns dos desvios e reproduções mais rasas com as quais a educação capitalista nos deforma, que algumas pessoas batem no peito e se dizem militantes à serviço da transformação revolucionária.
A gente erra, a gente vai errar, mas assim, de propósito, só pra tentar sufocar a própria insegurança e mesquinharia, na caruda, rir, só pra humilhar alguém e se auto enganar com a ilusão de que sabe o que é e o que não é o tempo todo e sobre tudo? Porque não é possível que alguém acredite que riso constrói ou aproxima alguém da luta.
Coleguinhas, todo mundo sabe quem vocês são. E aonde quer que vocês forem, todos saberão. A casca de vocês cai rápido, é fácil reconhecer vocês, porque cheiro de café, de chuva e de patifaria é de longe que se sente. Vocês acham que são reconhecidos por aí por aquela fala calorosamente repetitiva na assembleia ou aquela colocação brilhantemente enmerdada de vaidade na sala de aula, mas não. Lá no fundo de cada um de nós; até lá no fundo daquele seu clã que você construiu em volta de si pra esquecer que na real você está tão angustiado e cheio de perguntas como todas as outras pessoas; você é reconhecido pela distância, pelo medo e pela máscara, aquelas coisas que engrossam dia após dia o caldo cultural universitário influenciado pela lógica do sistema, cheio de blábláblá superior, espertalhão, prepotente, patético e vazio.
Se houver ao seu lado, por exemplo, um fascista, combata essa defesa e essa pessoa também. Uma pessoa com uma defesa e uma posição dessa dificilmente volta atrás. Agora se ao seu lado há um colega de sala, de trabalho ou de qualquer lugar, que exponha dúvidas, confusões ou uma saída não tão revolucionária quanto você acredita ser necessária, não humilhe essa pessoa com seu riso. Se não for pra convencê-la de que essa pessoa pode mais, se não for pra dividir seu conhecimento, se não for pra fazer qualquer coisa útil, simplesmente fique com sua boca calada e pare de passar vergonha porque coleguinha, a gente tá de olho, viu.
Deve ser muito difícil ser ridicularizado na frente de outras pessoas, deve ser muito difícil ir embora de uma aula com uma vontade de nunca mais voltar, deve ser muito difícil pensar em se matar porque os espaços de discussão te fazem sentir como alguém inútil ou inadequado igualzinho o capitalismo faz.
Tudo isso deve ser muito difícil, mas não pra você, que é foda.
Pensando melhor, também deve ser difícil se olhar no espelho todo dia e acreditar que o que você vê ali é real, deve ser difícil tentar organizar e tornar funcional e convincente todas essas decorebas e poses, deve ser difícil ser você, só mais umx.
[“Você não tem perguntas pra fazer porque só tem verdades a dizer, a declarar.”]
[Raul Seixas]