[CAMARÃO QUE DORME A ONDA LEVA]
Em uma semana eu dizia uma coisa, em outra semana eu dizia o contrário dessa coisa como se eu nunca tivesse acreditado ou gastado nada de energia nessa coisa inicial.
Como a coisa inicial não tinha dado os resultados que eu esperava, eu mudava de coisa, eu dizia o contrário da coisa inicial de inúmeras e diversas maneiras, tentando parecer sensata e convencer a mim mesma e a qualquer pessoa que aquela mudança era necessária, viável, boa, óbvia e inevitável.
A partir daí, ao invés de fazer alguma coisa eu passava a gastar meu tempo tentando explicar que aquilo tudo não era uma idiotice como certamente parecia e era, a partir daí, ao invés de fazer alguma coisa eu apenas ia fazer a mesma coisa inicial mas num lugar diferente achando que a coisa inicial se transformaria em algo novo. Eu ainda não sabia que nem todo passo é avanço.
Quando eu era adolescente era assim que eu argumentava e justificava as minhas merdas.
O embaraço das situações repetidas consiste exatamente em seu constrangimento e emaranhado. Metade das pessoas não sabe de nada, e a outra metade acha que sabe de tudo. E o pior não é a ilusão de pertencer completamente a um dos dois extremos, e sim a transição que eventualmente pode acontecer entre um polo e outro. A vergonha que a constatação do despreparo e da incompletude promove. O piso molhado que as certezas não sinalizam em amarelo.
Fico imaginando os desdobramentos de uma delação premiada nas nossas relações pessoais.
Se a gente abrisse a boca pra falar o que sabemos.
Mas sempre tem alguém disposto a re-colocar e manter as máscaras no lugar.
Mas sempre tem alguém disposto a fingir que tá tudo bem.