[CADERNINHO DE FRASES]
Então, porque tipo assim. Frase que precede uma sequência narrativa de cunho estruturalmente complexo visto que os elementos constituintes se aglutinam num emaranhado angustiante de óh céu, óh dúvida, óh azar.
Bom, vamos lá. Frase que precede uma sistematização explicativa que inexoravelmente esmiúça até a última gota do signo, significado e significante, dirigindo ao interlocutor um tratamento que comumente se dá ao nível cognitivo de uma criança de 4 anos.
Só que é o seguinte. Frase que precede alguém te envolvendo num jogo sedutor de te contar o porquê algo é bom, é realmente fantástico, e depois te dando uma voadora no pé da sua orêia, uma paulistinha nos cambito, e veja, é muito bonito mesmo esse castelinho que você criou na sua cabeça, PORÉM. Muito utilizada por vendedores de celular: as foto sai boa, foto da lua e tudo, memória ok [você sabe que o adjetivo ok é um adjetivo traiçoeiro, não sabe?], SÓ QUE É O SEGUINTE. RETICÊNCIAS.
Posso contar com você? Frase interrogativa que precede a personificação de Don Corleone bem ali na sua frente. Quem usa esse tipo de frase tem aquele tipo de certeza subentendida de que obviamente você não vai poder responder com uma negativa. Logo, quem não pode dizer não, é porque está devendo. Muito utilizada por patrões às 17h de uma sexta-feira. Você chega em casa e bota o despertador pra manhã seguinte. O sistema é foda. Ass: Wagner Moura.
Vai passar. Frase que precede aquele ombrinho pra você encostar sua cabecinha. Você arrisca um detalhe: quando? Não se apegue, porque a questão do espaço-tempo na física, porque a questão do tempo do capital. Segue longa explanação com o objetivo único de preencher todos os espaços da conversa de modo que não haja tempo pra você inventar de colocar aquela música inadequada para o momento, e também pra você não fazer perguntas que evidentemente não possuem respostas. Muito utilizada por Chico Xavier, coach’s e melhores amigos. A cena termina com Raul Seixas cantarolando na sua cabeça: “você não tem perguntas pra fazer, porque só tem verdades a dizer, a declarar”. Menos mal. Poderia ter sido Zé Neto e Cristiano: “eu sei que ninguém morre de amor, mas cachaça e saudade mata”.
Talquei? + arminha com a mão. Frase que sucede outras frases ininteligíveis. Muito utilizada pelo personagem Taz, dos Looney Tunes, e por aquele que não pronunciamos o nome.
Já tô chegando. Frase que precede um atraso. Muito utilizada por paulistanos e por pessoas que acabaram de entrar no banho.
Bóra tomar a saidêra? Frase que precede mais 10 garrafas do que quer que seja.
Posso te falar a verdade? Frase que precede um conflito e/ou uma conversa que certamente não vai terminar bem.
Etc, etc, etc.