[BOSSA MORTA]
A periferia de São Paulo segue com vida, para alguns. O pão de ontem na frigideira, abre o chuveiro só um pouquinho pra ver se a água esquenta, uma avó no escalda pés, panela de sopa que faz ploft, vaquinha pra comprar pizza, fogueira no final da rua, quentão e vinho quente na quermesse, um, dois, três, quatro cobertores e um lençol por cima pra não espirrar, um cinzeiro transborda de bitucas, uma galinha de Minas Gerais por apenas dez golpes.
O inverno se parece muito com o amor, porque é aquela coisa que você torce pra chegar e não sabe exatamente como agir quando enfim acontece. Tinha-se a certeza do desejo, sobretudo da bondade daquilo, mas agora as boas coisas de antigamente como dormir em paz e tomar um banho ficam impossibilitadas de ocorrer com naturalidade.
João Gilberto morreu num dia frio, portanto Copacabana e Leblon não deram falta da perda porque também morrem no inverno. A morte vira notícia nesse perímetro. A garota de Ipanema deve estar com o nariz escorrendo, vinho no lugar do chopp, esqui na lagoa Rodrigo de Freitas, cristo com os braços abaixados.
Pessoas que nunca te ouviram, desejaram um vai com deus porque você apareceu na tv.
Coloquei Lígia pra tocar, porque eu ‘jamais ousaria as bobagens de amor que outros vão te dizer’.