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Pessoas são como linhas tracejadas numa folha de papel, são como migalhas de pão na história de João e Maria, ou aquelas tirinhas transparentes que as lesmas desenham nas paredes dos quintais. Elas vão deixando caminhos, tudo o que sabemos aprendemos com alguém. As coisas que fazemos recebem notas na escola, e sempre há alguém para nos dizer que já podemos seguir em frente ou então que é preciso refazer algo. Os anos se adiantam e conhecemos coisas como leis de trânsito, polícia, pecado. Sherlock Holmes ficaria desmotivado ao dar-se conta de que o mundo parece uma teia aonde seguimos e somos seguidos.
Há uma espécie de voz dentro das cabeças e ela nos diz que é preciso escovar os dentes tantas vezes de cada lado. Andando numa rua qualquer é possível ver que algumas crianças jogam futebol, a bola vem em sua direção, você chuta a bola de volta e segue caminhando. Um carro passa e buzina, você acena para o motorista, às vezes é um cumprimento, noutras um xingamento. No fim do dia você se sente único, porque é claro que ninguém mais no mundo seria capaz de falar aquela besteira naquela hora inapropriada, nenhuma impressão digital é igual e somente sua sensibilidade é capaz de combinar com maestria os tons de verde que você tanto gosta.
A gente manda e o nosso cérebro faz, estamos acostumados com as ordens que acreditamos dar e executar, nos sentimos seguros com isso, exceto nos momentos de exagero alcoólico. Nos movemos pelo mundo sem repararmos de onde realmente vem as vozes que anunciam por onde e como ir. É como se acreditássemos que ao nascer éramos um pote de terra aonde um feijão mágico foi depositado, e suas características serão como nunca foi e nem nunca será novamente.
Dançar é uma das ações que podem esclarecer o fato de que somos condicionados por inúmeras forças. Algumas modalidades de dança exigem passos pré-determinados e ensaiados, já outras podem trabalhar com improvisação. Juntar-se à imprevisibilidade de um outro corpo em movimento e/ou perceber-se na entrega (dessa vez) facultativa e audível construída pela voz de alguém que propõe um exercício é estar diante do significado da palavra coletivo. No encontro com o outro, chocam-se o desconhecido e o que você acha que controla.